Não será missão deste blogue defender ou atacar outras congregações
religiosas, porém quando no passado Domingo (18/10/2015) na TVI foi passada a
reportagem intitulada "Na sombra do Pecado", com um intuito claro de
difamar uma minoria religiosa, fiquei indignado com a fraca qualidade da peça e sendo membro de outra congregação religiosa minoritária, não pude deixar
de passar esta oportunidade de expressar essa indignação.
Para piorar a jornalista Ana Leal foi ao programa da manhã da TVI e tratou
de publicitar um pouco mais a sua investigação e salientar de um modo
insultuoso que os TJs são uma seita. deixo aqui o link quem quiser
aprofundar o tema.
Uma das perguntas dirigidas à jornalista é porque não se mostrou o lado bom
dos TJs, isto é, poderia por exemplo entrevistar pessoas activas e convictas na
religião. Ana Leal desculpou-se de que a liderança dos TJs foi contactada por
várias vezes para um contraditório, mas que recusaram sempre prestar
declarações. Também terá tentado entrevistar pessoas crentes, mas não
encontraram ninguém com disposição para falar. A jornalista insinuou que os
líderes controlam os seus crentes de tal forma que são todos proibidos de falar
com a comunicação social. O que é curioso disto tudo é que vendo a reportagem
verifica-se que alguns dos ex-TJs não se identificaram. Eu pergunto-me se seria
tão difícil encontrar alguém para defender a sua religião eu acho que esses
defensores nem sequer iriam pedir a protecção da sua identidade. Se o controlo
da liderança, fosse assim tão apertado, com certeza alguém falaria protegendo a
sua identidade. Será que a jornalista esforçou-se o suficiente para
encontrar crentes com vontade de falar? Sinceramente, tenho as minhas
dúvidas!
A jornalista tenta dar um aspecto credível à sua reportagem, quando diz que
usou os testemunhos de dois investigadores que serão à partida imparciais. É
curioso que um dos investigadores é Professor da Universidade Católica. Se
alguém vê aqui imparcialidade eu não vejo nenhuma!
Quanto ao outro investigador, a Profª Helena Vilaça (da Universidade do Porto), verifica-se que o seu
testemunho foi editado de forma a ficar o mais de acordo possível com o
objectivo da reportagem, a difamação, pois claro. Li alguns trabalhos
publicados por esta investigadora (muito interessantes), e o tom de análise é completamente imparcial
e não tem nada a ver com o que foi passado na reportagem.
Voltando à reportagem odiosa da jornalista Ana Leal, a acusação mais grave
é do encobrimento da Igreja em casos de pedofilia, em que os TJs tentam abafar o problema julgando internamente as pessoas e proibindo as pessoas de se
queixarem às autoridades civis. É verdade que algumas congregações pelo mundo
fora terão sido condenadas por encobrir casos de pedofilia, também é verdade
que na doutrina TJ tentam no máximo possível evitar o uso dos tribunais
seculares, porém como diz a Profª Helena Vilaça na sua dissertação de
doutoramento:
" ...no seu ponto de vista, as "Testemunhas de Jeová
cumprem sempre a lei" - aspecto que fazem questão de enfatizar -
"mesmo quando, por obediência à lei de Deus, são obrigados a
transgredi-la" (Vilaça,
Helena (2003), Da Torre de Babel às terras prometidas. Porto: Faculdade de
Letras da Universidade do Porto) Nos casos de pedofilia eles cumprem a lei
e não a transgridem, porque somente evitam ir a tribunal em simples "questões
financeiras, calúnias ou diferenças pessoais, e certas questões legais" (wikipedia:
Posições controversas das Testemunhas de Jeová) . Portanto apesar dos TJs admitirem que
tendencialmente poderão transgredir as leis civis, se estas forem opostas às leis de
Deus (como por exemplo no serviço militar obrigatório), no caso da Pedofilia
ninguém é impedido de se queixar às autoridades seculares. As congregações
condenadas são casos esporádico e pontuais e não parecem fazer parte das
práticas habituais dos TJs.
Eu não concordo com muitas doutrinas dos TJs (imensas!) e com as
interpretações exageradas que fazem com partes das escrituras, porém, admiro a sua religião, porque funciona numa base do voluntariado (assim
como a nossa) e admiro os seus crentes que são pessoas dedicadas e acima de tudo estudam as escrituras, coisa que a maior parte da população Portuguesa não o faz!
Na minha opinião, a
reportagem não é uma reportagem de investigação, mas simplesmente um acto de
maledicência. Deixa de ser uma reportagem de investigação imparcial, porque só mostrou o
lado negativo da religião. Por outro lado, numa tentativa de atrair público
tenta debilmente colar temas polémicos e que foram escândalos noutras religiões (pedofília na Igreja
Católica, pedidos exagerados de doações pela IURD, etc) e
tenta mostrar alguma credibilidade usando e deturpando documentação interna (e confidencial)
dos TJs e alguns estudos académicos.