segunda-feira, 6 de julho de 2015

Blogue Vozes Mórmons e a morte dos apóstolos

Era previsível que o anti-mormonismo se expandisse para os países lusófonos. Sendo assim era expectável que essa expansão começasse pelo Brasil, país onde existem mais membros da Igreja a falar português.

Um grande representante desse movimento anti-mórmon é o blogue Vozes Mórmons. Não deixo aqui o link para minimizar a divulgação da propaganda publicada pelos autores do blogue.

Eu caracterizo o blogue como sendo anti-mórmon, porém eles dizem que o blogue somente "busca promover a informação e reflexão sobre temas relacionados à tradição mórmon em um ambiente de liberdade intelectual e respeito a crenças". 

A retórica utilizada pelos autores não é original, nos EUA, existe o MormonThink que utiliza a mesma argumentação, isto é, publicita ser um site de membros fiéis da Igreja, que mostra todos os pontos de vista, tudo muito liberal e Blá, Blá, Blá... Porém quando se entra no MormonThink, vê-se claramente conteúdos tendenciosos e que têm como fim denegrir a Igreja. Apesar de se apelidarem imparciais por colocarem tanto a posição apologética, isto é, de defesa da Igreja como a dos críticos da Igreja, a defesa da posição da Igreja é referida sumariamente e totalmente criticada e por outro lado defendem claramente a posição que é contra a Igreja. Sobre o MormonThink quem estivesse alerta veria que as pessoas que contribuíam para os artigos também frequentavam os sites e fóruns anti-mórmons que pululam por toda a Internet Anglo-Saxónica. 

O site MormonThink revelou a sua verdadeira face quando o seu editor chefe tentou levar o Presidente Thomas S. Monson ao tribunal do Reino Unido com uma acusação de fraude. O juiz que avaliou o caso antes de ele seguir para tribunal considerou a acusação um abuso.

A minha experiência com o Vozes Mórmons veio comprovar o que já se suspeitava. Tal como o Mormonthink, está cheio de publicações tendencialmente maldizentes das doutrinas e práticas da Igreja. Ainda tentei colocar alguns comentários aparentemente respeitadores da política de comentários do blogue, mas que acabaram por não ser publicados. A única explicação possível para esta censura é de que os meus comentários não estavam dentro da linha das intenções dos autores do blogue, isto é, não concordavam com as incoerências escritas por eles. A excepção foi para um único comentário que ficou publicado e provavelmente deve ter ficado esquecido... Resumidamente, a tal liberalidade e respeito por todas as crenças é inexistente.

O mais grave ainda é a forma pouco ética como abordam os recentes falecimentos de apóstolos da nossa Igreja. 

O "post" sobre o falecimento do apóstolo L. Tom Perry, não é de maneira nenhuma um obituário, Vejam bem, o ódio destas pessoas é de tal ordem que põem-se a falar mal de uma pessoa falecida há muito pouco tempo (tinha falecido no dia da publicação) e ainda nem se tinha celebrado o funeral, portanto os familiares ainda estavam a sofrer pela perda de um ente querido, e estas pessoas estavam a ataca-lo acerca das suas crenças. 

Uma das principais acusações foi de que este apóstolo era "contra os direitos civis das pessoas LGBT" e para tal colocam uma imagem de uma notícia da Reuters cujo título era "Líder Mórmon L. Tom Perry Morre aos 92 anos, Opunha-se ao Casamento Homossexual”. 

Ora L. Tom Perry era um defensor do casamento tradicional e criou algumas reacções negativas nos movimentos LGBT quando no último discurso alertou sobre os "estilos de vida alternativos e falsos que tentam substituir a organização familiar". Para quem não sabe essa é a função de um profeta servir de atalaia  e alertar sobre os perigos do mundo, portanto alertar sobre pecados não é mais do que um exercício da sua liberdade religiosa. 

Será curioso que o autor do post não deixou o link para a notícia, somente traduziu o título de Inglês para Português. Saliente-se que é usual um jornalista colocar um título sugestivo e apelativo de modo atrair a atenção do leitor, mas depois o conteúdo da notícia (de um jornalista imparcial) tende a ser equilibrado e fidedigno da realidade da notícia. Este título tem como intenção atrair leitores que se interessam por assuntos relacionados com o casamento Gay, mas vejam que não caracteriza o apóstolo como um opositor de direitos civis. De certa forma ser contra o casamento Gay, não é necessariamente ser contra o direito dos Gays se casarem, porque antes de existir o casamento homossexual, os homossexuais sempre tiveram o direito de se casarem com pessoas de outro sexo, tal como os heterossexuais também só podiam casar-se com pessoas de outro sexo. O direito civil era igual para todos. A igualdade já existia! Deixemos esta discussão para um futuro "post".

Lendo o conteúdo da notícia (que as Vozes Mórmons não colocaram link) verifica-se que L. Tom Perry esteve presente (o que demonstra o seu apoio) quando os legisladores do estado de Utah introduziram uma lei impedindo a discriminação de pessoas LGBT. Será que foi por causa deste facto que o autor não postou o link? Afinal o grande opositor dos direitos LGBT andou a fomentar leis que protegem direitos dos homossexuais! Bem fica ao critério dos leitores o prognóstico das intenções do autor deste post. Já nem refiro a acusação ridícula de que este apóstolo foi um dos poucos apóstolos Mórmons polígamos no século 21 porque casou-se depois de ficar viúvo. 

Para piorar, recentemente, as Vozes Mórmons reincidiram no mesmo erro, isto é, voltaram a dizer mal de um apóstolo falecido, neste caso Boyd K. Packer. A acusação mais grave é de que este tacitamente terá aprovado "violência física contra homossexuais em um determinado caso". Tacitamente quer dizer que não é expresso, mas que se deduz, porém ao ler o que o apóstolo discursou na Conferência de Outubro de 1976, ele diz expressamente que não recomenda o uso de violência, porém admite que às vezes as pessoas precisem de se defender. Vejam que para alguém se defender terá que haver uma agressão. No discurso o apóstolo não deu todos os detalhes para percebermos o que levou um missionário a ter agredido o seu companheiro quando este o assediava e o objectivo da citação desta experiência pessoal é de que os rapazes deviam resistir vigorosamente aos assédios sexuais destas pessoas que tentam engana-los que a homossexualidade não tem nada de errado. Concedo que o apóstolo poderá ter usado um exemplo extremo para demonstrar o grau de resistência que se deve ter com este tipo de tentações, porém vejam que é um discurso com quase 40 anos, na altura essa história foi vista como sendo banal e ninguém na altura se indignou, e vejam bem que os movimentos LGBT já existiam. No início dessa década a homossexualidade tinha deixado de ser considerada doença pela APA (American Psiquiatric Association) por força de movimentos LGBT (não por nenhuma descoberta científica). Por outro lado há situações que se justifica uma resistência vigorosa e até violenta como por exemplo um assédio de um pedófilo (LGBT ou não), uma violação, etc.

Na minha opinião esta acusação é difamatória e pelo que sei em Portugal é crime difamar o bom nome de pessoa falecida mas pelos vistos no Brasil o código penal não prevê punição.

Portanto só me resta dizer para não se deixarem enganar pelas pretensas boas intenções do blogue Vozes Mórmons.

Sem comentários: